11 de fevereiro de 2010

Minha alma gelada.


. meia colorida - Amanda Machado


Esse texto foi elaborado e escrito antes na minha mente, ou seja, vivenciado no dia 5 de fevereiro de 2010.

Eu acordei cedo, o céu ainda estava escuro mas parecia que aquela ansiedade já me dizia o que iria acontecer. Administrei a ansiedade, dizendo a ela que ela só estava descontrolada daquela maneira pois eu iria acompanhar a minha mãe ao hospital, para que se acalmasse, afinal queria mostrar a fortaleza que eu poderia ser. E pelo menos, eu pareci ser durante aquelas longas horas naquele frio hospital.

Na verdade o meu dia inteiro foi frio. O trem parecia uma geleira, eu já podia sentir algumas partes do meu corpo dormentes, e enquanto caminhava até a praça da Cruz Vermelha, meu corpo ia gelando e uma situação desconfortável ia me tomando.

Quando minha mãe me encaminhou para aquela porta, eu sabia, eu já sabia o que eu iria fazer ali, encontraria um local de atendimento onde faria meu crachá de acompanhante, era o que eu achava que ia fazer, até que uma cena mudou minha vida.

Dei de cara com um salão, lotado de poltronas, uma recepção. Um salão, lotado de pessoas, uma multidão. Um salão, lotado de pessoas apreensivas, uma exaustidão.

Havia o tal local de atendimento, uma fila e tudo mais. Havia muitas pessoas, cara de doentes, alguns idosos, alguns jovens, a maioria com um olhar fundo. Perguntei a minha mãe para quê servia aquela sala e ela me explicou que era ali que as pessoas esperavam enquanto não eram encaminhadas para os seus respectivos exames, aquela era a fase inicial. E enquanto ela me explicava eu não conseguia parar de olhar, aquelas duas poltronas chamavam mais atenção, aquelas duas pessoas chamavam muito mais a minha atenção. a a
Um homem e uma mulher, um casal, era o que parecia. A mulher estava muito debilitada, magra, muito magra, se você já ouviu alguém falar: "fulano é só pele e osso", esquece! Ela era só pele e osso. A mulher parecia tão frágil e ao mesmo tempo tão forte. O homem a abraçava e a olhava com um olhar amoroso, demonstrava carinho e gentileza. Com certeza eram um casal, um casal apaixonado ainda por cima. E o que vinha a minha cabeça era um turbilhão de perguntas.

Como aquele homem, que parecia tão saudável, conseguia continuar a amar aquela mulher, que já não anda, mal consegue se mexer, feia que se tornou? E a resposta vinha de supetão. Ele a amava, e amar não tem porque. Só se ama. E era pelo amor que ele a via linda, maravilhosa, e por amor que ele conseguiu ser a fortaleza no momento que ela precisou. Só pelo amor, o quê mais seria?

Ao ver aquele homem acariciar a mulher, eu vi o amor de verdade, aquele puro. Afinal quem pode dizer que ele fazia aquilo pela aparência, ou por dinheiro, ou por pena. Ele fazia pois é o papel dele, apoiar sua mulher, acompanhar, dar forças, segurar a mão até o último momento..

Não consegui tirar o olho do casal durante o tempo na fila, por fim peguei o crachá e subimos até o terceiro andar. Minha mãe foi ao exame e eu fiquei ali, sentada, sozinha, sentindo frio, solitária. Tentei dormir, não dava. Tentei prestar atenção na conversa das outras pessoas já que eu não tinha com quem conversar e não deu. Horas se passaram. Minha mãe voltou e viemos. Não me arrisquei a olhar para a recepção.

E o frio tomou conta da minha alma.
Espero que todos possam ter um amor que esquente as suas almas!

"..vazio e solidão, meus sonhos foram levados, é só saudade machucando aqui dentro, invade o meu coração, lamento quanto a ilusão" . o tempo vai passar
4 de fevereiro de 2010

Os três mosqueteiros


. meia colorida - Amanda Machado


Eram apenas quatro meninos, um deles, o menorzinho, admirava os outros três, olhava perplexo como se gravasse os movimentos na mente, e mesmo sem notarem os meninos faziam parte de um elenco extraordinário, mal sabiam eles a força que aquelas espadas tinham, ou mal sabia eu. Talvez eu que não tenha visto o quanto àquelas armas, espadas de plástico que eram, tinham importância. Elas os tornavam valentes, eram os príncipes de suas donzelas, os guardiões de seus próprios destinos, com a armadura brilhante e pés descalços.

Eles não só brincavam, como deixavam que o mundo os assistisse, não se importaram quando eu passei e admirei a imagem, nem notaram os meus olhos transbordando lágrimas. Aqueles garotos, tão humildes, na simplicidade da vida que levam, sorriam mais que muitos que não só têm a espada, como o castelo. Os meninos defendiam algo que eu não sei dizer bem o que era, mas aqueles sorrisos explicam tudo.

Eles em muitos momentos de suas vidas terão que retirar essa espada do bolso e com coragem defender os seus, terão que enfrentar o mundo, o preconceito, quebrar tabus e enfrentar mil desafios, e isso é o que eu espero que aconteça. Pois aqueles três mosqueteiros não podem esquecer a alegria de lutar, de ser o dono se seu próprio destino. Mesmo que a floresta, o dragão e a donzela estejam apenas em suas imaginações, a verdade da infância é sonhar. E ser criança é mais uma ciranda. A vida de hoje não permite aos pais que deixem os filhos sonhar, afinal o mundo vai castigá-los no futuro e eles têm que estar alerta. Mas sonhar nos prepara, nos ensina, as lições da verdade são mostradas nos pequenos sonhos. Mesmo que a espada seja de plástico, e o castelo seja só mais um quarto e sala alugado, se a criança puder ser criança, e puder imaginar: ser o espião, o policial, o bombeiro, o super-herói, o rei, o ninja, o cowboy, no final, bem no final ele vai se tornar homem e ver que de sonhos também se constrói futuros.

Declaro aqui que aqueles mosqueteiros me salvaram de um medo terrível, abriram meus olhos para que mesmo com pouco existem aqueles que sabem viver da imaginação, pois quem tem mente e coração aberto, um sorriso estampará sempre.
P.S.: De acordo com o incentivo, mas textos virão!
Beijos, B.P., por me incentivar a escrever.