17 de agosto de 2011

Indagações profundas

. meia colorida - Amanda Machado

E quando é que você nota que faltam os dedos e depois as mãos? Quando é que se nota que se perdeu tudo o que um dia você sonhou em ter? Quando é que notamos que até os sonhos estão perdidos?

Quando podemos admitir que nos perdemos também, que nós fomos embora com eles e que o que está aqui é a capa vazia?

Quando podemos assumir que fomos? Que nos largamos? Que deixamos o toco apenas para ter algo para se lamentar? Por que é tão difícil entender mesmo quando se entende? Quando você conseguirá dizer que deixou pra lá? Quando vai passar? Quando?

E por que ainda conseguimos ter essa visão otimista de que se foram as mãos, mas ficaram as pernas, os braços, o tronco e tudo o mais? Por que mesmo de tudo perdido ainda nos oferecemos para sermos mutilados novamente? Por que doer ainda é bom?

Por que eu ainda quero sentir tanta dor se o meu corpo nem aguenta mais a que eu estou sentindo? Por que ainda confio, acredito e espero? Para quê esperar? Por que não abandonar? Por que não desistir? Por que não cansar?

Qual é o motivo? Qual é o segredo? Onde está escondido? Está? Qual é o lugar? Onde eu posso ficar? Como eu posso ficar? Eu vou ficar? Vamos ser, estar, ou correr? Vamos fugir? Eu fugiria assim tão facilmente? Será que sei desistir? Será que eu sei me deixar desistir?


Se eu quiser me convencer, tudo pode ser então, um bom motivo pra eu desistir. Se eu tiver que te dizer, tudo pode ser em vão, tudo que eu já sofri. Já tentei esquecer, fingir que vai mudar, que com o tempo vai passar, mas é sempre igual, ninguém pode saber o quanto eu penso e sinto por você. Mas é sempre assim, tenho medo de dizer que sem você aqui os meus dias são sempre iguais. Eu só penso em você.
Mesmo se quiser tentar você nunca vai entender porque tantas vezes eu chorei, mas se eu puder sonhar com um dia perfeito pra mim, vai ser tudo como imaginei. Já tentei esquecer, fingir que vai mudar, que com o tempo vai passar. Não consigo me enganar, mas é sempre igual, tenho medo de dizer, mas é sempre igual, tenho medo de dizer. - Luiza Possi

14 de agosto de 2011

O que é ser pai?

. meia colorida - Amanda Machado

(Texto escrito em 2008 com referências à minha história com meu pai e à história de outras pessoas que conheci.)


 Quando penso em Pai, penso no meu, e em todos os homens que já conheci, e até mesmo os que não conheci, mas que terão a bênção de um dia serem pais. Bate uma tristeza, pois como definir o que é pai se nunca poderei ser um, essa dádiva nunca fará parte da minha realidade. Já que é assim e nada posso fazer para mudar isso, minha admiração por estes seres que dedicam muito de suas vidas aos filhos, aumenta, e, é impossível falar em admiração sem falar do "meu pai". E para o meu pai não haveria encargo melhor do que ser: PAI. Melhor, sim, ele é o melhor pai do mundo e não tenho vergonha alguma de usar esta frase que tanto já foi repetida por pessoas sem criatividade e com intenção de emocionar, meu caso é diferente, não quero que essa emoção seja fácil e curta, e sim, duradoura, e vou dizer mais do que eu acho que é ser pai, vou dizer o que é ser meu pai.
 Ser pai é chegar tarde do trabalho que não aguenta mais, porém não pode abandonar, e mesmo cansado, a primeira coisa a se fazer é dar um longo abraço ou talvez, um beijo na testa da criaturinha que já dorme. Ser pai, é abdicar dos sonhos da juventude de ir morar na Ásia e pensar em comprar uma casa com um quintal maior, para talvez ter um balanço. Ser pai é deixar de fumar, para ter o dinheiro para comprar as fraldas.
 Ser pai é trocar o futebol de domingo e ser o namorado da Barbie, a boneca da filha. Ser pai é ensinar a filha a dançar as suas antigas danças e passos durante aquela festa de casamento especial. Ser pai é ver em seu bebezinho um parceiro para o futuro. Ser pai é guardar os brigadeiros no copinho e resistir às guloseimas, enquanto o tesouro brinca no pula-pula. Ser pai é comprar o uniforme do clube do coração, mesmo que para a filhinha, só para que ela abra um sorrisão.
 Ser pai é ir ao cinema e ver filmes infantis. Ser pai é ter que sempre que sai sozinho com a princesinha, pedir a ajuda a uma senhora, pois há o problema do banheiro. Ser pai é morrer de ciúme quando a menininha começa a ver outros, senão o pai. Ser pai é dividir o sorvete, o chocolate, a jujuba. Ser pai é não resistir aquele biquinho tentador e trocar o "não" pelo "sim". Ser pai é guardar aquele desenho horroroso que a filhinha fez quando tinha três anos, onde os braços e cabeça do "pai" são azuis. Ser pai é ser apaixonado pelo desenho da Pequena Sereia, só porque já viu milhões de vezes a mesma coisa.
 Ser pai, é se emocionar ao ver a filha escrever um poeminha onde amor, rima com flor. Ser pai é ajudar a mamãe a dizer de onde os bebês vêm. Ser pai é se contrariar ao ver a filha que acaba de sair das fraldas, como ele pensa, e ir para o shopping com o namorado. Ser pai é odiar que as filhas cortem o cabelo, mesmo elas adorando, e sempre guardando as madeixas na gaveta. Ser pai é gastar muito com uma bota que sabe que a filha não vai usar. Ser pai é envergonhar a filha na frente dos amigos e amigas, se fazendo de mais jovem. Ser pai é fazer loucuras pra realizar o sonho da filha, mesmo ele não achando o melhor. Ser pai é apoiar a menina grandinha que decidiu seguir caminhos difíceis até se formar. Ser pai é repetir dezenas de vezes a mesma coisa e ela nem dar atenção.
 Ser pai é ter muitas fotos 3x4 na carteira da menininha que ainda o faz suspirar, mesmo ela não sendo mais uma menininha e ter que aturar homens a olhando. Ser pai é ficar inseguro com a demora da chegada daquela festa. Ser pai é jogar limpo e falar sempre a verdade por mais que seja difícil. Ser pai é amenizar os problemas com aquelas palhaçadas repetidas. Ser pai é comprar um tênis que usava na sua adolescência só para combinar com a filha, que ele notou que não o nota mais. Ser pai é deixar a filha o maquiar e fazer penteados nele, para deixá-la feliz. Ser pai é defender a pequena de até uma pedra que a incomoda. Ser pai é notar que a filha cresceu e deixá-la partir a novos horizontes.
  Ser pai é comprar umas cervejinha e comemorar a nova casa da filha. Ser pai é aturar aquele genro chato que torce por outro clube de futebol porque a filha está encantada pelo bobinho. Ser pai é consolar a filha quando o bobinho a troca por outra. Ser pai é ajudar financeiramente escondido da filha, para ela não se sentir mal. Ser pai é investigar a vida do homem com o qual ela enfim disse que pretende se casar. Ser pai é aceitar que a ficha do cara "certo" é limpa. Ser pai é usar terno e entrar com a filha na igreja. Ser pai é rezar pra que a filha desista antes do sim. Ser pai é rezar para que depois do "sim" ele a torne feliz.
 Ser pai é dar conselhos a filha naquele grande negócio, mesmo não sabendo nada sobre o assunto, e acabar ajudando. Ser pai é festejar o nascimento do primeiro neto, enfim o homem da família. Ser pai é ser avô e um ótimo avô. Ser pai é ser o velhinho que ensina matemática e história para os filhos da filha, já que ela está tão ocupada com os preparativos do natal, e não pode ajudar os filhos na recuperação. Ser pai é ver os filhos crescerem e se tornarem avós, e então ser um bisavô.
 Enfim, ser pai é acima de tudo, ser a pessoa que instrui sem atrapalhar, que mima sem desrespeitar, que cria sem maltratar, e que verdadeiramente assume o papel perfeito de ser pai, e, um bom pai. Para que um dia, no fim da vida, possa pensar que fez o melhor para os seus filhos, e que tudo de bom que ele teve antes dos filhos era nada, se comparado, pensar que o maior tesouro ele deixou com o filho, o caráter.

        Para ser um bom pai, não é necessário rios de dinheiro, é necessário excesso de amor, carinho e dedicação. Sem isso, não há tesouro. Sem tesouro, não podemos designar ninguém de: PAI.

Feliz dia dos pais!
8 de agosto de 2011

Digo logo que passou

. meia colorida - Amanda Machado

                                                                                  Foto do FázFácil

Como tudo que passa, essa passou rápido. Só valeram algumas lágrimas, bem poucas se contadas e comparadas, e um pouco de inspiração para variar. Como tudo que vai, foi, sem que eu notasse e quando tive que encarar de frente notei força sobrando, talvez força demais desperdiçada com algo tão pequeno.
É que, quando notamos que exageramos a dose, já passou, nós já caímos, já sentimos as dores e já nos curamos. É o dom das pessoas que gostam de sofrer. Vale sofrer se é para sentir algo, é mais digno sentir dor do que passar os dias não sentindo nada. Mas até o "alguma coisa" passa rápido e nos deixa abertos novamente para o esperado.
Depois de meses de miséria e tortura, eu cheguei ao ponto onde as cicatrizes nem aparecem mais, onde é fácil ver a luz lá fora e dizer que está tudo bem. Está. Agora o que me sobra é a insegurança que sempre me acompanhou, e o medo que vem andando junto com os que não sabem como fazer. Sobra aquelas perguntas e aquelas suas próprias respostas, sobram as perguntas das outras pessoas, e aquela falta de respirar, aquele sufoco que cansa e não te deixa descansar, mas eu já estou tão leve.
Pode ser até que eu perca, o que pelo jeito é fácil de acontecer, mas eu não vou perder perdendo. Afinal, quem perde - quando é algo relacionado a mim - é sempre o outro.
Fica, bebe mais um pouco e começa a ignorar a dor dos que são infinitamente felizes. Quebra a droga do espelho.


"Só escrevo sobre coisas que aconteceram comigo. Coisas que eu não consigo superar. As minhas letras são muito pessoais e intensas, mas nelas também há lugar para o humor. Felizmente sou muito autodestrutiva" - Amy Winehouse