. meia colorida - Amanda Machado
Eu tenho muito medo de muitas coisas, mas quem me conhece bem sabe que eu tenho muito medo de perder as minhas lembranças, de esquecer. Eu tenho medo, pois sou o tipo de pessoa que dá o merecido valor às lembranças - há quem diga que supervalorizo -, às que eu vivi e às que eu ainda vou viver. Eu sei que nossas lembranças são super frágeis, principalmente as que estão no nosso cérebro, mas hoje eu vi que as lembranças que não estão guardadas no cérebro, mas sim, nas ruas, em monumentos, em imagens, ou em pessoas, elas sim são muito frágeis. Frágeis porque não dependem de você, dependem da vontade de um outro, seja o outro a prefeitura ou um amigo antigo, dependendo do que te faz lembrar.
Resumindo: Cortaram três árvores da rua de baixo. As árvores não eram minhas amigas, eu nunca tive algum momento marcante naquele local, por exemplo, um beijo de cinema, nada considerado de grande importância, mas eu vivi ali, e viver já é tão importante.
Desde quando eu cheguei ao local onde moro hoje, eu passei por aquelas árvores inúmeras vezes. Eu sentei ali quando o sol castigava, e vi minha irmã com três anos pedir para descansar ali ao lado, eu vi grupos de crianças crescerem ali, elas foram moldura de grandes fotos, e agora, elas morreram. A morte dói, afinal elas foram cortadas sem dó e elas ainda podiam viver durante muitos anos.
Talvez eu esteja exagerando e talvez muitas árvores ainda passem pelo meu caminho, ou eu pelo delas, mas eu sempre vou lembrar-me do carinho que uma das árvores me fazia quando eu passava por baixo dela e um de seus galhos me tocava a cabeça.
P.S.: Eu amo lembrar! E... É por esse tipo de coisa que eu guardo tudo que me faz lembrar algo importante, até mesmo quando o tudo ainda não é algo importante, mas poderá ser, não é?
