21 de janeiro de 2014

E não é que desandou?

. Sim, eu uso meias coloridas - Amanda Machado

Escrito em setembro de 2013.

  OK, eu já cheguei à esta conclusão antes mas não é que aconteceu de novo? Existem receitas que foram feitas para certas pessoas praticarem e existem pessoas que simplesmente não conseguem seguir a receita.
  Essa é uma delas. Eu só não consigo fazer dar certo. Tentei uma vez, isso faz tempo, coloquei açúcar demais, palavras demais, vontade demais, excesso. Tentei outra vez, um tempo depois, e foi açúcar de menos, palavras de menos, vontade de menos, falta. Resolvi não tentar mais, eu não conseguiria nunca transformar os ingredientes que eu tinha em mãos nos ingredientes necessários à massa, eu não nasci para preparar esta receita, ponto. Brinco com receitas parecidas mas não me atrevo a chamar pelo nome do tal prato.
  Agora, cansada de outras receitas, resolvi tentar novamente, certa de que se equilibrasse meus ingredientes, se conseguisse fazer tudo, não como manda a receita mas como eu a sinto, daria certo. Achei por um momento que estava tendo sucesso, até o ponto que, talvez por excesso de tentar, me excedi. Meus ingredientes estavam mais que perfeitos, mas eu não consegui fazer deles um bolo bonito, uma refeição apetitosa, falhei. Talvez eu não deva cozinhar mesmo. Ainda que para a maioria esse tal prato seja algo natural e simples de fazer acontecer, não é, para mim.
  Hoje está doendo um pouco aqui, afinal sempre me faltou impulso para arriscar perante os meus desejos, e quando me sobrou, alguma coisa desandou e o que eu achava que estava acontecendo, acabou.
  Que sina essa de fazer tudo acabar.

  Eu só queria um "oi" hoje. Sabe? Um "boa noite", ler você se referindo a mim como "sua mineirinha", ou algo do tipo. Ler você contando seus detalhes diários, provavelmente a coisa mais fofa em você, ou eu te contar os meus, nunca tão interessantes. Tô sentindo falta até do trânsito que me fazia buscar você. Quero você reclamando do frio, da neve, da distância. Que saco você sumir assim da minha vida. Que saco não ter suas palavras comigo. Que saco você não ser meu agora. Quero alguém (você) me chamando de "tu" e escrevendo e/ou falando de um jeito que só você fala comigo. Estou cansada dessa tua falta. Aparece logo pra mim.
17 de janeiro de 2014

"Se eu não posso ter, fico imaginando..."

. Sim, eu uso meias coloridas - Amanda Machado

  Aquela foto piscando na minha frente, aquela foto se acendendo ainda que meus olhos estivessem fechados, aquela foto girando, girando, entrando em todos os cantos de mim. Transformou, agiu, com toda a acidez que se precisa ter para corroer, mordeu, matou. Ainda que a dor não seja nova, ainda que seja esperada, não estou preparada. Preparada para te deixar ir e me deixar vazia como uma bola que criança não quer mais brincar. Preparada para perder o eu que te quer mesmo com todas as coisas que incomodam, para perder o eu que quer te querer sempre.
  Então engulo - seco, doído, ardente - e continuo. Porque sempre há caminhos para se continuar. Ainda que sem você. Ainda que sem a sua nuca que brilha pra mim. Ainda que sem a sua barba que só me lembra que eu fiz alguma coisa em você. Que eu fui alguma coisa, algum dia, em algum breve momento. Então eu vejo você levantando a sua barba e me puxando com cuidado de debaixo dela. Então eu me vejo desgrudando do seu pescoço e pulando em queda livre. Um pulo bem maior do que eu dei para subir. A questão é que você não sabe quantos pulos eu deixei de dar nesses 18 meses, você não sabe quantos pulos eu quis dar durante todo esse tempo. Você não sabe, e quando diz que não sabe dar esse tipo de pulo, eu quero entender, mesmo, porque até me parece possível ser verdade.
  A questão é que eu escolhi acabar, eu escolhi encerrar, porque isso nunca ia acontecer. Isso tudo, talvez tudo mesmo, só aconteceu pra você durante pouco tempo, e só aconteceu pra mim depois de muito tempo, talvez tempo demais, quando eu já tinha perdido a deixa de fazer você tentar. E como tudo tem acontecido a base da gota d'água, deixo esta ser a última gota do que eu sinto de verdade por você. A partir de hoje, vai ser outra coisa, só vou ser outra coisa, só vou sentir outra coisa, só vou olhar outra pessoa, e só vou ser essa nova pessoa, que não te olha do mesmo jeito e que não te quer mais. Vou estar sempre por perto, porque eu não vou saber ser longe, vou estar sempre te querendo bem, porque eu não vou saber ser sem te querer, vou estar sempre pronta pra falar com você, porque eu não vou saber ser sem te ouvir, mas não vou ser mais quem eu quero ser com você, porque eu preciso não ser e eu preciso não querer ser.
  Lá no fundo, onde nem eu consigo entrar, há um espaço que é só seu, e ainda que as coisas mudem, como vão mudar, e eu vou deixar, sempre vai te caber lá, mesmo que para quem veja isso seja impossível.

"Ela andou e eu fiquei ali
Ou será que fui eu que dali mudei
Com uns passos mudos
De uma reticência?
Ela me olhou bem
Quem sabe com ela
Eu teria achado
O que sempre me faltava
Cores, colagens, sons, emoção!
Se eu não posso ser
Fico imaginando" 
                Ali - Nando Reis