Não lido bem com a solitude. Não fico bem sozinha comigo mesma. Sobra espaço pra pensar no vazio que os meus desejos deixam. Sobra espaço pra remoer os planos deixados pra trás. Dá medo. Só comigo não me deixa bem. Parece que agora eu não sei mais ir sozinha, preciso de alguém segurando minha mão pra andar, pra ir adiante. Preciso de mãos quentes percorrendo meu corpo. Preciso de olhos pequenos me olhando que ficam ainda menores quando sorriem. Preciso de sol, e de sombra, e de olhar a chuva de dentro do carro.
Se eu chego e estou só, arrepia a alma. Porque quando se está sem alguém é preciso ser você mesmo, todo o tempo, só você, e se encarar, sem fingir. E é foda aguentar ser você mesmo todo tempo. É foda quando você está um saco. É tão mais compreensível, e natural, e saudável, e feliz, fingir. Eu adoro a pessoa que eu sou hoje quando interajo, quando entretenho. Agora ser só é mesmo tão triste.
Houve tempo em que eu vivia bem no silêncio do meu eu, que eu respirava bem, que não me doía o corpo. Mas esse tempo agora passou. Sinto necessária a presença de outro ser. Sinto necessária presenças, porque dói a falta se sobra tanto espaço. E eu preciso que alguém ocupe. Mesmo que seja feio o substituir. Aqui é grande demais pra uma pessoa só. Sou eternamente espaçosa pra ser ocupada só por mim mesma. Preciso me encher logo. Porque todo esse espaço ainda está aqui, só sendo o vazio. E assusta quando o barulho ecoa. Eu lembro que tudo aqui já esteve preenchido. De não eu.
Eu poderia implorar a volta, não se pode recusar quando alguém implora, mas não. Porque o lugar de onde você foi não existe mais. E pra onde você iria? Repousar nos momentos felizes? Dói demais. E depois, isso só ia criar mais vazio. Ver você enxergar que depois que você deu as costas tudo se alargou e virou sofrer. Doeria demais. Ver que agora tudo é abstinência. Então não adianta. Não adianta implorar. Não adianta voltar se o lugar de onde você foi não está mais aqui. Acabou.
Só posso desejar ir também, e que você nem pense em voltar. Não volta. Não voltará. Só posso aguentar. Ir embora desse lugar que desde então é só vazio. Me abandonar pra não encarar o que me lembra a você em cada esquina de mim. E seguir. Até encontrar esse lugar onde eu vou ser só mas vou preencher todos os cantos. Onde só caberá a mim. De onde vou enxergar o seu novo lugar. De onde vou desejar que você seja solto, e livre, e que voe, "que a gente na vida foi feito pra voar", como eu sempre disse.
É isso. As vezes se preencher só te deixa mais vazio. Porque tudo acaba. O bom e o ruim, tudo feito pra acabar. E depois o que acontece é triste demais.
Não volte pro mundo onde você não existe
Não volte mais
Não olhe pra trás
Mas não se esqueça de mim não
Não me lembre que o sol nasce no leste e no oeste morre
Depois o que acontece é triste demais
Pra quem não sabe viver pra quem não sabe amar
Não volte pra casa meu amor que a casa é triste
Desde que você partiu aqui nada existe
Então não adianta voltar
Acabou o seu tempo, acabou o seu mar, acabou seu dia
Acabou, acabou
Não volte pra casa meu amor que a casa é triste
Vá voar com o vento que só lá você existe
Não esqueça que eu não sei mais nada
Nada de você
Não me espere porque eu não volto logo
Não nade porque eu me afogo
Não voe porque eu caio do ar
Não sei flutuar nas nuvens como você
Você não vai entender
Que eu não sei voar
Eu não sei mais nada
