
. meia colorida - Amanda Machado
Ela parecia atrasada, andava rápido, largas passadas, e olhava o relógio quase que minuto a minuto. Ela estava atrasada. Seu rosto era rubro, como se estivesse coberta por um grosso edredom de raiva e seus cabelos ondulados estavam presos a cabeça como em um novelo de lã. Seus olhos baixos olhavam para as pessoas que passavam, e quem reparasse na moça de sandálias vermelhas de salto bem alto, entenderia o motivo de seu sorrisinho leve. Breve como o sorriso da lua no fim da noite, ela logo cerrou os lábios e continuou a caminhada. Parou em uma lanchonete. Queria pães de queijo e um chá gelado. Sentou ao lado direito da loja, onde não havia quase ninguém e consultava o relógio como se esperasse que enfim os ponteiros chegassem ao ponto final. Demorou cerca de quinze minutos na loja, comeu, pouco bebeu, levantou-se e começou a caminhar para a praia. Já na areia, olhou tudo ao redor, tirou os sapatos pretos, largou a bolsa de lado na areia, e caminhou em direção a água. Ficou olhando, imóvel, durante mais de meia hora. Não parecia esperar alguém, sim, algo. Quando olhou o relógio de novo, resolvi consultar que horas eram, e quando olhei novamente à frente, ela estava retirando o grosso casaco e parecia se preparar para entrar ao mar. Olhei as horas novamente, eram exatamente 16:01, ela retirava a calça e dava para ver a lingerie negra que ela usava. Não retirou o relógio. Entrou no mar soltando os cabelos de lã e quando a água chegou à cintura, parou. Mergulhou e subiu, cheguei mais perto para reparar um pouco mais naquela espécie de ritual que a moça fazia. Ela então, retirou o relógio, lançou ao mar e começou a sair do mar. Andando devagar como se estivesse leve, saiu do mar, tocava os pés levemente na areia. Quando alcançou suas roupas, sequer as tocou, continuou a caminhar deixando tudo para trás. Passando por seus sapatos e pela bolsa grená que carregava continuou a caminhar. Foi quando notei um carro cinza parado na orla, ela entrou e se foi.
O que a moça pretendia com todo o ritual eu não sei, só sei que se chamava Anita Barbosa, tinha vinte e seis anos e não era do Rio de Janeiro, havia nascido em uma cidade do Paraná, quem me contou tudo isso? A bolsa grená.
Ela parecia atrasada, andava rápido, largas passadas, e olhava o relógio quase que minuto a minuto. Ela estava atrasada. Seu rosto era rubro, como se estivesse coberta por um grosso edredom de raiva e seus cabelos ondulados estavam presos a cabeça como em um novelo de lã. Seus olhos baixos olhavam para as pessoas que passavam, e quem reparasse na moça de sandálias vermelhas de salto bem alto, entenderia o motivo de seu sorrisinho leve. Breve como o sorriso da lua no fim da noite, ela logo cerrou os lábios e continuou a caminhada. Parou em uma lanchonete. Queria pães de queijo e um chá gelado. Sentou ao lado direito da loja, onde não havia quase ninguém e consultava o relógio como se esperasse que enfim os ponteiros chegassem ao ponto final. Demorou cerca de quinze minutos na loja, comeu, pouco bebeu, levantou-se e começou a caminhar para a praia. Já na areia, olhou tudo ao redor, tirou os sapatos pretos, largou a bolsa de lado na areia, e caminhou em direção a água. Ficou olhando, imóvel, durante mais de meia hora. Não parecia esperar alguém, sim, algo. Quando olhou o relógio de novo, resolvi consultar que horas eram, e quando olhei novamente à frente, ela estava retirando o grosso casaco e parecia se preparar para entrar ao mar. Olhei as horas novamente, eram exatamente 16:01, ela retirava a calça e dava para ver a lingerie negra que ela usava. Não retirou o relógio. Entrou no mar soltando os cabelos de lã e quando a água chegou à cintura, parou. Mergulhou e subiu, cheguei mais perto para reparar um pouco mais naquela espécie de ritual que a moça fazia. Ela então, retirou o relógio, lançou ao mar e começou a sair do mar. Andando devagar como se estivesse leve, saiu do mar, tocava os pés levemente na areia. Quando alcançou suas roupas, sequer as tocou, continuou a caminhar deixando tudo para trás. Passando por seus sapatos e pela bolsa grená que carregava continuou a caminhar. Foi quando notei um carro cinza parado na orla, ela entrou e se foi.
O que a moça pretendia com todo o ritual eu não sei, só sei que se chamava Anita Barbosa, tinha vinte e seis anos e não era do Rio de Janeiro, havia nascido em uma cidade do Paraná, quem me contou tudo isso? A bolsa grená.

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