27 de agosto de 2012

Como eu me sinto quando surto

. Sim, eu uso meias coloridas - Amanda Machado
              Imagem de Lucas Adorno

Nem tudo é sempre uma verdade.

"Vai ver você só está surtando como todas as outras cinquenta mil vezes...", e lá fui eu repetindo meu mantra, "você surta, querida", "lembre-se que você sempre surta". Eu surtei todas as outras vezes, que não foram cinquenta mil mas foram muitas. E eu repetia meu mantra enquanto minha amiga me dizia por uma conversa muito informal de rede social "Amiga, vê se não surta!" e a vontade que vinha era de digitar um grande "já surtei!!!!!!!".
Mas é que vocês me arrancam o teto sobre a cabeça e por um tempo eu ainda consigo me sentir segura, vocês fazem com que eu me sinta segura até o momento onde sinto todas as partes do meu corpo desabarem, e tudo gela, parece que o ar fica preso em algum lugar obscuro do meu corpo que a anatomia não define, o conteúdo sai pelos lados e eu acabo. É assim que me sinto quando não me sinto mais segura. A insegurança para alguns pode parecer algo que desequilibra e deixa tonto, e isso acontece comigo, mas a minha insegurança faz questão de me cortar os punhos, de amputar minhas pernas, de cegar meus olhos e de destruir meu pobre senso de ridículo, me deixa ridícula, e me deixa.
Fico imaginando os mil motivos que vocês tem, e vocês devem ter pelo menos uns mil para me tratarem assim. Imagino vocês na minha situação, tão inseguros quanto eu, com um corte ao lado do corpo e carregando uma faixa na cabeça onde se pode ver a confissão de todos os seus pecados. Imagino todos vocês pulando de uma alta muralha e caindo de cara no chão, esfolando o nariz, cortando os lábios, perdendo os dentes, ficando desfigurados. Imagino vocês caminhando em uma ponte que cai, nadando em mares congelados, correndo de um grande monstro com duzentos dentes na boca. Está confirmado: Eu surtei! Como todas as outras cinquenta mil vezes, eu perdi o rumo, me larguei em um canto e deixei que você comandasse a minha insegurança para um beco sem saída onde só resta para a pobrezinha uma solução, a de surtar.
Eu devia me obrigar a parar, a sossegar e a pensar que foi um dia ruim, ou dois, ou um bilhão, e que você tem os seus dias, assim como eu. Eu devia pensar que foi só uma frase, ou duas, ou um bilhão, e que eu entendi tudo errado e logo vou rir de tudo isso - e eu prefiro pensar assim - mas eu surtei, e quando eu surto, a bela pessimista que eu guardo debaixo do travesseiro salta para fora e eu não mando mais em nada.
E, é nessas horas que o ar volta a circular, e eu tento manter a calma. Faço uma lista dos motivos que eu não tenho para surtar, e rabisco uma lista dos motivos que eu gostaria de ter para surtar baseada em fatos reais. Normalmente é nessa hora que eu saio correndo antes que tudo doa, e se eu não corro... Então é a hora em que você sai correndo morrendo de medo dos meus surtos, das minhas inseguranças, das minhas confusões, da gritaria, do silêncio. Normalmente... Essa é a hora em que eu deixo você ir e repito que não poderia dar certo mesmo. Essa é a hora em que você vai e a culpa é minha mesmo. Essa é a hora em que eu sinto que o teto da minha cabeça volta para o lugar. Essa é a hora em que as pequenas doses de dor nova cessam e a dor de sempre se instala bem no meio do meu corpo. Essa é a hora...
Eu sempre chego a grandes conclusões quando imagino o fim das coisas. Sempre. Onde será que está o teto da minha cabeça? Não vou procurar.

Peço desculpas por já estar surtando, mas prometo todas as promessas que eu sei prometer que eu vou melhorar. Que eu vou ser um pouco menos a louca, e um pouco mais a pessoa normal que eu finjo ser.
23 de agosto de 2012

Abre e fecha

. Sim, eu uso meias coloridas - Amanda Machado

A porta do meu quarto não só tem levado todo meu tempo, como diz tudo por mim... E olha que o projeto nem foi concluído.


Os meus atuais sentimentos são segredo de Estado e questão de segurança nacional. Melhor silenciar!


9 de agosto de 2012

Pra não se afogar mais

. meia colorida - Amanda Machado

Faz tempo que não escrevo aqui. Faz tanto tempo que não escrevo. E hoje, mais uma vez, veio aquela vontade de dividir algo que só pode ser dividido com esse ser imaginário para o qual escrevo, um eu reprimido que precisa ler para entender o que sente e pensa.
Eu venci pequenos medos. Ou melhor, grandes.
E depois de quase três anos, quase três longos anos, fugindo de situações onde eu fosse obrigada a encarar o mar, eu me rendi e mergulhei nessa dose de pânico que eu mesma criei.
Eu cogitei passar muitos anos sem entrar no mar, eu cogitei passar a vida inteira sem maiores contatos com o mar, eu impus isso à minha vida com tamanha severidade que eu já nem sabia mesmo quando isso havia começado. Não vou dizer que não doeu. Nem mesmo que não senti o que sempre tive medo de sentir... Culpa. Eu me senti culpada, mas passou, e passou porque eu ouvi claramente enquanto a água quente do chuveiro caia sobre minha cabeça que não haveria chateação, que o importante era a felicidade, em sua resposta, linda como sempre, ele me disse que ele sempre ia preferir a diversão. E eu escolhi a diversão. Eu o ouvi no sussurro da água, e escolhi seguir suas palavras.
A saudade importa tanto que o resto não precisa importar.
Eu não superei, a morte não é algo que se possa superar, mas eu me aliviei, deixei só o amor permanecer e a raiva ir embora. E como todos que misturam raiva ao amor depois de situações trágicas, eu entendi que tudo era negação. Nada mudou. As dores continuam aqui, o medo continua aqui, o sofrer e o chorar vão continuar aqui, mas o amor também continua aqui, a alegria, a saudade, a vivacidade, a luz, a esperança, afinal, essa reação já devia ser esperada há muito tempo.

Parte de mim sempre vai morrer quando um dos que eu amo for embora, mas parte fica, e essa parte é que me salva,  a que ainda quer amar mais.