Confesso que há 5 minutos eu estava tentando dormir, no entanto, apesar de cansada por ter acordado super cedo porque, como já vou explicar, meu corpo não perde tempo, minha mente não sossegou e eu tive que vir escrever.
"Eu havia farejado a pista de uma vida diferente e nada me desviaria dela. Eu a caçaria. Encontraria seu lugar dentro de mim. Iria achá-la, prová-la, devorá-la. O cara podia ter cuspido no meu rosto e eu limparia o cuspe e continuaria andando.
Não haveria distrações.
Nem arrependimentos."
Markus Zusak em A garota que eu quero
Estou de férias. Férias na faculdade. Férias no projeto. Fééééééeeeeeeeriâââns... Quem me conhece sabe que eu estava precisando, no entanto, minha mente e meu corpo não concordam - certo que meu corpo está funcionando um pouco melhor -, eles simplesmente discordam do meu discurso de "só quero dormir por um mês". Assim sendo, eu acordo todos os dias antes das 8 horas sem nenhum despertador, ainda que eu tenha ido dormir às 3, eu não consigo passar 10 minutos que sejam, apenas sossegando, eu acabo pensando na vida, e, é aqui que eu começo a escrever sobre o que realmente importa.
Eu tenho fome de vida. Eu tenho fome de viver. Eu tenho fome. Eu tenho vida. Não consigo simplesmente ver o tempo passar, eu tenho que passar com ele. Talvez os meus pais estivessem agitados quando me conceberam, com muita vontade de viver. Talvez seja por conta da pouca oportunidade e muita vontade de viver que eu vejo na minha mãe, via na minha avó, via na minha bisavó, vejo na minha avó. Talvez seja só porque eu conheci os lugares certos, li os livros certos, recebi a educação certa, fui pelo caminho certo. Não sei. O que eu sei é que eu simplesmente não consigo sentir que estou gastando meu tempo. Eu preciso estar vivendo este a todo momento, eu preciso sentir que estou criando, levando, mudando. Eu preciso fazer parte do tempo que passa.
Desde a infância eu tenho crises de ansiedade por conta do tempo que passa. Quando eu tinha uns 8 anos, eu chorava toda noite porque eu não tinha brincado o suficiente durante o dia, tinha deixado a preguiça me instalar no sofá vendo os desenhos passarem, fazendo com que eu perdesse a oportunidade de encontrar meus amigos, fazer novos, conhecer novas brincadeiras, então, no meio de muitas lágrimas e horas sem conseguir dormir, eu me prometia que no dia seguinte seria diferente, eu me comprometia comigo mesma a brincar, para que não me arrependesse 10 anos depois. Confesso, não brinquei o suficiente. Com uns 11 anos, talvez 12, eu não conseguia dormir durante a noite e sofria todos os domingos, isso acontecia porque nesses momentos eu simplesmente não estava ocupada, estudando, estudando, estudando - como sempre foi -, eu estava livre, livre pra pensar na vida que eu estava levando, e como ainda acontece hoje, quase sempre o que eu via não me agradava, aumentava a angústia, e as promessas de que eu faria minha vida e meu tempo valer a pena, para que não me arrependesse 10 anos depois. Confesso, não fui totalmente bem sucedida. Com 21 anos, ou seja, agora, eu perco noites de sono, choro todos os dias quando tomo banho e vivo reclamando pra quem não me julga muito, que a minha vida está passando. Eu tive uma crise de ansiedade e ela simplesmente aconteceu porque eu estava com tempo livre. Livre pra pensar em quanto eu não estou fazendo o que eu quero. Não sou ingrata de dizer que é em tudo, que a minha vida é nada do que eu quero que ela seja. Ela é, só que é parte do que eu quero que ela seja, e, é o medo de que eu não consiga fazer dela um inteiro, que me dói.
É o medo de não ter a oportunidade de viver tudo, é o medo de me dedicar à algumas coisas e daqui a 10 anos, ver que não valia tanto. Claro, tudo na vida é risco, e nós sentimos o que sentimos, e usamos isto pras nossas escolhas, mas, não deixo de ter medo por saber que não dá pra viver sem se arrepender. Eu morro de medo. Porque eu quero estar no controle e ao mesmo tempo sentir aquela sensação de se perder de si mesmo. Porque eu quero ser livre pra escolher o que eu quiser, mas quero estar presa nas pessoas. Porque eu quero ter os meus muitos amigos e tempo para encontrar e ser útil a todos. Eu quero ser médica, eu quero continuar coreografando e trabalhando no projeto, eu quero trabalhar na oficina de leitura, eu quero me mudar, eu quero correr, escrever, entrar em oficinas de dança, desfilar no carnaval, viajar, conhecer pessoas, eu quero tudo. E ter tudo eu não consigo.
Conclusão: Enquanto as pessoas com quem eu quero estar não podem estar comigo, ou não querem, e enquanto eu não posso ir e fazer tudo o que quero, eu vejo o tempo passar, e isso me dói uma dor que eu simplesmente não consigo ignorar. Lateja no alto da minha barriga e me impede de tudo, de ir aonde eu quero ir, de falar o que eu quero falar, de ser. A espera é insuportável. Eu não consigo ser a pessoa que fica sentada, ignorando seus instintos, aceitando que a vida não é como queremos e sim como deve ser. Eu não consigo.
Não quero parecer contraditória, mas a verdade é que eu prefiro estar muito ocupada e ter uma desculpa pra não estar fazendo as coisas que eu quero. Porque maior que a dor de não poder, é a sensação de fraqueza perante a vida de não estar fazendo. Tempo, não pára, prometo que vou viver.
Renato, fala tudo...


