28 de junho de 2014

Temos todo o tempo do mundo?

. Sim, eu uso meias coloridas - Amanda Machado

  Confesso que há 5 minutos eu estava tentando dormir, no entanto, apesar de cansada por ter acordado super cedo porque, como já vou explicar, meu corpo não perde tempo, minha mente não sossegou e eu tive que vir escrever.

"Eu havia farejado a pista de uma vida diferente e nada me desviaria dela. Eu a caçaria. Encontraria seu lugar dentro de mim. Iria achá-la, prová-la, devorá-la. O cara podia ter cuspido no meu rosto e eu limparia o cuspe e continuaria andando.
Não haveria distrações.
Nem arrependimentos."
                                 Markus Zusak em A garota que eu quero

  Estou de férias. Férias na faculdade. Férias no projeto. Fééééééeeeeeeeriâââns... Quem me conhece sabe que eu estava precisando, no entanto, minha mente e meu corpo não concordam - certo que meu corpo está funcionando um pouco melhor -, eles simplesmente discordam do meu discurso de "só quero dormir por um mês". Assim sendo, eu acordo todos os dias antes das 8 horas sem nenhum despertador, ainda que eu tenha ido dormir às 3, eu não consigo passar 10 minutos que sejam, apenas sossegando, eu acabo pensando na vida, e, é aqui que eu começo a escrever sobre o que realmente importa.
  Eu tenho fome de vida. Eu tenho fome de viver. Eu tenho fome. Eu tenho vida. Não consigo simplesmente ver o tempo passar, eu tenho que passar com ele. Talvez os meus pais estivessem agitados quando me conceberam, com muita vontade de viver. Talvez seja por conta da pouca oportunidade e muita vontade de viver que eu vejo na minha mãe, via na minha avó, via na minha bisavó, vejo na minha avó. Talvez seja só porque eu conheci os lugares certos, li os livros certos, recebi a educação certa, fui pelo caminho certo. Não sei. O que eu sei é que eu simplesmente não consigo sentir que estou gastando meu tempo. Eu preciso estar vivendo este a todo momento, eu preciso sentir que estou criando, levando, mudando. Eu preciso fazer parte do tempo que passa.
  Desde a infância eu tenho crises de ansiedade por conta do tempo que passa. Quando eu tinha uns 8 anos, eu chorava toda noite porque eu não tinha brincado o suficiente durante o dia, tinha deixado a preguiça me instalar no sofá vendo os desenhos passarem, fazendo com que eu perdesse a oportunidade de encontrar meus amigos, fazer novos, conhecer novas brincadeiras, então, no meio de muitas lágrimas e horas sem conseguir dormir, eu me prometia que no dia seguinte seria diferente, eu me comprometia comigo mesma a brincar, para que não me arrependesse 10 anos depois. Confesso, não brinquei o suficiente. Com uns 11 anos, talvez 12, eu não conseguia dormir durante a noite e sofria todos os domingos, isso acontecia porque nesses momentos eu simplesmente não estava ocupada, estudando, estudando, estudando - como sempre foi -, eu estava livre, livre pra pensar na vida que eu estava levando, e como ainda acontece hoje, quase sempre o que eu via não me agradava, aumentava a angústia, e as promessas de que eu faria minha vida e meu tempo valer a pena, para que não me arrependesse 10 anos depois. Confesso, não fui totalmente bem sucedida. Com 21 anos, ou seja, agora, eu perco noites de sono, choro todos os dias quando tomo banho e vivo reclamando pra quem não me julga muito, que a minha vida está passando. Eu tive uma crise de ansiedade e ela simplesmente aconteceu porque eu estava com tempo livre. Livre pra pensar em quanto eu não estou fazendo o que eu quero. Não sou ingrata de dizer que é em tudo, que a minha vida é nada do que eu quero que ela seja. Ela é, só que é parte do que eu quero que ela seja, e, é o medo de que eu não consiga fazer dela um inteiro, que me dói.
  É o medo de não ter a oportunidade de viver tudo, é o medo de me dedicar à algumas coisas e daqui a 10 anos, ver que não valia tanto. Claro, tudo na vida é risco, e nós sentimos o que sentimos, e usamos isto pras nossas escolhas, mas, não deixo de ter medo por saber que não dá pra viver sem se arrepender. Eu morro de medo. Porque eu quero estar no controle e ao mesmo tempo sentir aquela sensação de se perder de si mesmo. Porque eu quero ser livre pra escolher o que eu quiser, mas quero estar presa nas pessoas. Porque eu quero ter os meus muitos amigos e tempo para encontrar e ser útil a todos. Eu quero ser médica, eu quero continuar coreografando e trabalhando no projeto, eu quero trabalhar na oficina de leitura, eu quero me mudar, eu quero correr, escrever, entrar em oficinas de dança, desfilar no carnaval, viajar, conhecer pessoas, eu quero tudo. E ter tudo eu não consigo.
  Conclusão: Enquanto as pessoas com quem eu quero estar não podem estar comigo, ou não querem, e enquanto eu não posso ir e fazer tudo o que quero, eu vejo o tempo passar, e isso me dói uma dor que eu simplesmente não consigo ignorar. Lateja no alto da minha barriga e me impede de tudo, de ir aonde eu quero ir, de falar o que eu quero falar, de ser. A espera é insuportável. Eu não consigo ser a pessoa que fica sentada, ignorando seus instintos, aceitando que a vida não é como queremos e sim como deve ser. Eu não consigo.
  Não quero parecer contraditória, mas a verdade é que eu prefiro estar muito ocupada e ter uma desculpa pra não estar fazendo as coisas que eu quero. Porque maior que a dor de não poder, é a sensação de fraqueza perante a vida de não estar fazendo. Tempo, não pára, prometo que vou viver.

Renato, fala tudo...




3 comentários:

  1. É engraçado como o ser humano é. Somos todos insastifeitos. Não insatisfeitos no sentido de ingratidão, mas no sentido de inquietude. Não importa o que se faça, o quanto se conquiste, o que desejamos, o que não queremos, tudo ainda é pouco para a mente humana. Sempre há um desejo diferente, uma ansiedade por novos compromissos, novos momentos, sempre é uma reinvenção do si mesmo. É como se fossemos capaz de conquistar o mundo e, ainda sim, faltasse alguma parte em nós. Que complexo...

    São tantas a variáveis, tantas as possibilidades...Morar perto de casa, ir se aventurar em outro país.
    Ser um viajante no mundo ou apenas ter um trabalho regular. Quem sabe não ser um piloto, ou quem sabe
    um descobridor de outros mundos. Poderia eu, em minha mais sublime existência, ser um escritor? Quem
    sabe ser um pintor mundialmente conhecido? Ou um músico? Ter ou não ter filhos. Casar ou sequer ter um
    relacionamento sério. Se compromissar com o futuro ou aproveitar o presente. Mas e se eu quiser tudo isso
    e um pouco mais?

    É curioso como a mente não se cansa de brincar com a gente...faz a gente correr contra o tempo, se sentir
    mal por acreditarmos não tê-lo ao nosso lado. Quantas metas você tem se imposto durante toda uma vida para que chegue a acreditar no significado das coisas? Quantos sonhos, desejos, anseios, realizações pessoais e profissionais, se passam pela mente de um simples ser como nós nessa mera fração de tempo ao qual chamamos vida?

    A que ponto quero chegar com tudo isso? Numa constatação casual das coisas. Cada vez que se passa o tempo, e as experiências, maturidade e aprendizados nos alcançam, faz sentido entender que somos seres de fases. Estamos bem num momento, no outro tudo desaba. Vivemos bem agora, mas eventualmente nosso trem pode desgovernar. Estamos eufóricos e sorrindo para a vida neste instante, mas pela descoberta de algo que nos fira lá no íntimo, toda essa vontade repentinamente passe.

    Seria, então, desejar uma vida diferente, ter sonhos e expectativas acerca das minhas escolhas algo de ruim? Não, não é. O problema está em querer atropelar as coisas. Fazer tudo de uma vez, como se não existisse tempo para fazê-lo outra hora ou em outro momento. Assim, você pode perder parte essencial da viagem, cara amiga...

    Assim como não se lê um livro só pela capa, não se constrói uma casa em segundos. Assim como não se vai a praia e sequer toca os pés ao mar, ou sequer observar o azul profundo e infinito dessa beleza natural, uma idéia que pode salvar o mundo não surge num minuto. Assim como não se deixa partir aqueles que amamos, não se faz uma vida em uma hora.

    A história de cada um de nós é grande, extensa e única. E deveria ser sempre cheia, rica de detalhes.
    Rica das coisas que nos fazem ser melhores (não necessariamente boas), e evoluir (essa não seria uma essência e propósito da vida?). Sentimentos dos mais variados. Emoções das melhores. Lugares jamais visto duas vezes do mesmo jeito. Mas escrevê-la requer paciência, calma e, acima de tudo, amor pelo que está nela.

    Você ainda é jovem, não tão madura quanto se julga ser, mas tem muita vida pela frente. Muita coisa pra realizar, muitos sonhos pra ter e realizar. E muita energia. Para fazer, ser, crescer, acontecer. Se tem uma coisa que aprendi nos últimos tempos é: a razão é muito importante, o conhecimento também, mas nada como a imaginação, criatividade e emoção para nos guiar nessa estrada. Siga um pouco mais seu coração. Você pode não ser exatamente aonde quer chegar, ou o que quer realizar, mas ele certamente tem uma idéia.




    "O importante não é o desfecho da história e sim o caminho percorrido."

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  2. Anônimo, você me deixou intrigada... Sinto que ou lhe conheço de algum lugar ou meus textos estão mesmo expondo bem a minha alma. Quem é?

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  3. Não, não nos conhecemos. Acho difícil conhecermos plenamente a nós mesmos, algo que acredito levar uma vida toda para tentar...o que diria conhecer a si e a outros?
    Com relação aos seus textos exporem sua alma, sinceramente não acredito que você o faça. Sua alma não é nem de longe parecida com o que descreve. Alma, no sentido mais profundo, significa essência. Sua essência não se baseia em dor, tristeza e coisas negativas. Muito menos somente de coisas positivas. Além de que, se você diz expor sua forma de pensar e sentir, talvez não o faça...o que escreve, como você mesma dissera em outros textos, é pontual. Fase. Momentâneo e passageiro. Você se assemelha muito mais com aquela Amanda de 7 de junho de 2014. Muito mais com a pessoa apaixonada pela vida, pessoas, lugares e coisas a se ver e sentir. Por falar nisso, onde anda essa escritora, de tão alto calibre, poucas palavras, mas sem sombra de dúvidas, com tanto carisma e devoção por viver?

    Sou ninguém além do que quero ser. Escolho ser aquilo que creio entender. Sou a vida, a alma e o espírito por dentro da carne terrena a existir.

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