. Sim, eu uso meias coloridas - Amanda Machado
E só o que o me pergunto é: De onde vem tanta dor? Por que essa voz, que se parece tanto com a minha, não para de falar dentro da minha cabeça? Por que eu não consigo parar? É como se existissem mil ondas e todas elas resolvessem se chocar bem em mim, abalando tudo quanto é canto. Eu não estou aguentando. A base não é tão forte. Começo a afundar.
Meu dia-a-dia por si só é exaustivo. Vejo dor e doença e morte todos os dias, assim como vejo cura e recuperação e esperança pela vida. Balanceia. Tento equilibrar o que incomoda com coisas que fazem bem ao meu corpo, como dançar e ler. Mas não venho conseguindo manter tudo no lugar. Tenho mil pessoas dentro de mim e todas resolveram falar ao mesmo tempo. Não cabe em uma só. Não estou cabendo. Vazo. Escorro. E o que sobra está morrendo de medo. Medo de não suportar, medo de que essa angústia que chegou de repente sem nem dizer de onde veio, nunca acabe, medo de que não me falte as lágrimas - e logo -, medo desse cansaço. Muito medo.
Já digo cansaço porque cansa fingir felicidade. Há pessoas que não dá para enganar. Elas só te olham ou te escutam e já sabem que dentro de você está rolando uma guerra da qual está difícil se manter fora. E, é isso. As mil vozes que me mandam fazer tudo e nada ao mesmo tempo, se estapeiam, se socam, se xingam, - no fundo só quem está sentindo dor sou eu - e eu não consigo me manter fora, me focar na vida aqui fora, me concentrar nos meus deveres. Alguns notam. Os para o bem e os para o mal. E não falta cobrança.
Porque quando você está feliz, você é uma ótima companhia, uma ótima pessoa, uma ótima amiga, uma ótima ideia. Mas quando você está triste, quando a alegria não transborda, você não é uma ótima companhia, é uma péssima pessoa, cheia de defeitos gravíssimos, cheia de coisas a melhorar, é urgente. Não falta os "não seja assim", "não faça assim", "você não pode ser assim", "se esforce", "você tem que melhorar". Exaustivo. É difícil se concentrar quando se está triste. É difícil ser agradável. É difícil ser gentil. Eu só quero ser triste quando eu estou triste. E eu sei que eu sou triste boa parte do tempo mas se eu soubesse uma forma de não ser triste, ou de acabar com essa tristeza, eu juro que daria um jeito. Mas não há. Ninguém melhor do que eu conhece a minha tristeza. Ninguém luta tanto contra ela quanto eu, durante toda uma vida. Ninguém sabe o quanto essas lágrimas são de desespero, de acidez, de quentura. Minha dor ferve no meio do meu corpo, abre um buraco no meio do peito, e logo, sem piscadelas, não há com o que preencher. Fico assim, aberta, com a dor exposta.
Se cá estou louca, se me desfaço em cinza, se perco o controle e o descontrole, se me perco, se me largo, se me deixo, se me canso, é porque não sei mais o que fazer com isso tudo. Se faço tudo como o que menos quero, se escolho somente o que eu não quero, se me distribuo às pessoas erradas, se me dou de graça, se me esqueço de quanto custa, se menosprezo o esforço, se dou meu tempo, se o desperdiço, é porque não sei mais o que fazer com isso tudo. Eu não sei mais.
Me sinto fraca por admitir, me sinto leve por admitir, me sinto nua por admitir. Me sinto por admitir. No entanto, é só o que aguento fazer. Nessas noites de dar dó, onde saio do meu corpo e fico me admirando do alto, chorando num colchão no chão ou num banheiro com água caindo é que vejo que nada muda. Vivo cada dia na esperança de que em algum momento esse buraco vai se preencher, a dor vai acabar e eu vou saber onde colocar toda a ansiedade, mas sei, lá no fundo de cada parte de mim, que nada muda. Sempre. Talvez. Nada. Muda. Nunca. Não importa o tempo que passe, o quão madura você se torne, o quanto seu corpo se degrade, o quanto sua sanidade se esvaia, é sempre talvez nada muda nunca. É angustiante morrer de angústia.

Transbordou tudo, Amandinha. É isso.
ResponderExcluirComo em todo conto de fadas, os segredos da vida se escondem onde não estamos procurando.
ResponderExcluirE só os encontramos quando não precisamos. Isso dá graça a vida. Realizar que muitas das coisas são simples e nós somos agentes dificultadores é uma tarefa difícil. Assim como entender que, na essência, não existem buracos. Nem dor. Nem tragédia. Nem nada. É estranho dizer isso, não? Como a dor, o medo, a fragilidade, nada existe? Como dizer que o que sinto, o que procuro, o que quero, o que não consigo, o que tento, o que escolho, se passa de mera percepção?
Já parou pra pensar que todas as vezes que você se sente diferente do que deveria, você não está vivendo mais? É, minha cara...você está esquecendo daquilo que realmente importa e se prendendo a dois espaços imutáveis. Passado e Futuro. Retratos grafados na memória do instante fugaz de vida, da chama essencial que nos mantém vivos. Preencher-se desse combustível é algo perigoso. Pode te levar a caminhos tortuosos e má compreensões. Assim como podem servir como parâmetros para mudanças. Cuidado!
Já diziam as más línguas: "Uma mente ociosa é a oficina do diabo". Ociosidade...fatalidade não só de
mentes que se sentem vazias, mas também das cheias. Vazias não no sentido de limpas, abertas a novas
idéias, experiências e fontes de aprendizado. Vazias no sentido de não ter onde colocar nada,
irracionalmente frágeis. Não acredito que esse seja o seu caso. O que te impede de manter uma vida
mais saudável é o excesso. Você peca por excesso. Correr atrás de tudo, fazer tudo, sentir tudo, desejar tudo, aprender tudo. Pare um pouco. Reflita. É isso mesmo que a sua mente precisa? É de toda essa euforia que seu corpo precisa? Somos mortais e já nascemos com data de validade. Forçar-se além do que é necessário, como se isso fosse levá-la a um caminho melhor, mais belo e produtivo...é mero sentimento de culpa.
Não entendo como dor o que sente. Você, mais do que qualquer um, como já disse, deveria saber que a dor
tem causa e efeito. De origem física, extendendo-se ao processo psicológico. O que você sente se parece
muito com frustração. Esperar mais do mundo e das pessoas. Querer ter mais respostas para situações não resolvidas. Tentar se decifrar mais perante a vida. Expectativas de mais... Vida de menos...
Você acaba esquecendo que, cedo ou tarde, tudo o que é novo, diferente, e uma vez pareceu ser tão bom cai em desuso eventualmente. Tudo o que te anima, que te entristece, que te motiva, que te emociona, em algum momento acaba(Lembre-se, estamos falando de causa e efeito, que para existirem, partem do exterior para dentro de nós). A famosa rotina entra em ação. E Estar preparado para ela não é nada fácil.
Contrabalancear acontecimentos, eventos e pensamentos com mais deles não faz as coisas melhorarem.
Mas é, talvez, um mal necessário. Só seguindo os fatos e momentos que se chega numa mudança profunda de si. E quem sabe não seja isso que você tanto procura.
"Estou angustiado de lutar contra tudo isso. Não por que estou cansado, mas por que meus esforços parecem me levar somente em uma direção...para o caos. Hoje, tenho mais perguntas que respostas. E é por isso que cheguei tão longe: para encontrar clareza. Para encontrar a sabedoria que nos aproxima da verdade. Para que eu entenda melhor o propósito da existência, e meu lugar nela."