. meia colorida - Amanda Machado
Enquanto você se distrai, eu me corrôo. Corrôo-me de medo, de angústia, de vontade, de susto, ou de tanto suspirar. Enquanto para você a resolução é fácil, eu vivo complicando cada resposta e cada pergunta. Enquanto você está ai, eu estou aqui, e, enquanto eu estou ai, você some. Vivemos nos perdendo um do outro, exceto em meus pensamentos. Isso é outra coisa, enquanto eu penso, você voa, compra, beija, abraça, come, dorme, soluça, ou seja, não pensa. E eu só faço isso. E, talvez esse seja o nosso problema, não decidimos o que cada um iria fazer, e continuamos na sorte, marcando pontos nessa disputa só nossa. Só nossa já é uma coisa que não existe conosco, não é nosso, meu e seu, nunca, é sempre só meu, ou meu, seu, e de mais alguém. Eu e você não existimos para mim, e para você. Talvez seja o egoísmo.
Espera! Eu sou egoísta, você não. Você pensa todo o tempo em me agradar, é capaz de correr na chuva para que não me doa, é capaz de me carregar para que não me doa, é capaz de levar a colher a minha boca, é capaz de dizer por mim para que eu não me envergonhe, então, talvez eu exista para você, eu existo, eu sei, eu só não sei aceitar que existo e fazer disso uma conquista nossa, ou só sua, já que eu demoro a sentir que as coisas existem mesmo. Complico demais o que devia ser tão fácil, já que é o que você quer e o que eu quero, certamente, não posso dizer que é o que você quer mesmo, mas prefiro pensar assim e sonhar assim. Também prefiro não questionar se o passado pode ter algo a valer no agora, já que eu já me permiti te negar. Uma negação injusta tanto para você, quanto para mim, que por ser tão sem jeito e tão desconfiada, não consegui admitir ser verdadeiro.
Esperamos, todos, os humanos, que as coisas sejam boas mesmo quando são diferentes de nossos planos, e você sabe bem que eu sei planejar. Mas, meus planos e digamos, meus “quereres”, já se alteraram outras vezes, como você também sabe, eu mudo de ideia, de vontade, de profissão, eu mudo. Mudo porque me procuro, eu não mudo por querer ser duas em uma, mudo porque não sou eu, e tento me achar no meio de uma multidão de sensações inconsequentes que me pegam uma vez ou outra.
Minhas escolhas podem parecer super pensadas, corretas, e invariáveis, posso parecer rígida e racional, mas, como é? Eu não posso ser assim, eu sou a louca que pensa demais, mas decide o errado, eu sou a louca que é considerada muito inteligente, mas que não consegue manter nada, eu sou a louca que tem coração mole e só se faz de fria e dura. Eu posso ser muito louca, mas quando me decido, enfrento tudo o que tiver que enfrentar e bem que podíamos nos encaminhar para que uma decisão chegue daqui a não muito tempo. Não ache que agora eu sou a louca apaixonada, não, agora eu sou a louca interessada e que pode um dia vir a ser a apaixonada, isso só depende de como será o fim do nosso jogo, e eu tenho ótimas táticas para vencer, não é?
"Ela me encontrou, eu tava por aí num estado emocional tão ruim, me sentindo muito mal. Perdido, sozinho, errando de bar em bar, procurando não achar. Ela demonstrou tanto prazer em estar em minha companhia, eu experimentei uma sensação que até então não conhecia, de se querer bem, de se querer quem se tem. Ela me faz tão bem, ela me faz tão bem, que eu também quero fazer isso por ela. Ela me faz tão bem, ela me faz tão bem, que eu também quero fazer isso por ela." - Lulu Santos