. meia colorida - Amanda Machado
Ontem eu senti uma vontade de sentar na calçada, de ficar olhando o tempo passar, o vento passar, o sol passar. Lembrei dos tempos que não são tão velhos assim, onde eu ficava sentada em um banco azul, olhando o chão azul-turquesa, e rezando para não dar duas e meia da tarde, quando me levantaria e caminharia para aula, dá saudade ficar fazendo nada com os meus amigos enquanto a aula não começava, e até mesmo quando estava tendo aula.
Dá saudade ver o tempo, sentir que ele está passando. Hoje, passo o dia em uma sala, e para mim, está claro o dia todo, mesmo quando já se é oito horas da noite, eu sei, loucura, mas é assim mesmo, com a vida corrida que todo mundo leva, só dá tempo de olhar para o céu quando... Na verdade, não dá tempo. São mil coisas para se fazer ao mesmo tempo, e o céu vai ficando para depois, para quando você tiver tempo para essas bobices, como diria meu avô. Não que meu avô não olhe o céu, creio que ele olha muito mais que eu, já que vive no interior de Minas e não vive essa correria de quem não quer viver, e sim correr a vida.
E, poder esperar as coisas acontecerem, é hoje, privilégio das crianças, que vivem correndo da vida, e vivendo na cabeça, que é mais emocionante. E, eu aqui, eterna criança, vivo correndo da vida que vive me perseguindo, e enquanto corro, vivo, que é o inevitável, mas, ainda tenho fé e acredito que é possível trabalhar, descansar, se apaixonar, dançar, se divertir, e ainda assim ter um tempinho para olhar as nuvens, sentir o vento e ver o tempo passar, mesmo que seja por pouco tempo, ainda é possível.
Esse é para quem estuda, trabalha, faz curso disso e daquilo, dorme, almoça com a família, faz ballet, vai à Igreja, faz parte de uma pastoral, vai a boate, a festas, a churrascos, pega ônibus, trem, metrô, beija, abraça, acompanha 20 séries diferentes, dá aula, conversa, fala ao telefone, e ainda assim quer ter tempo para ver a vida passar.


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