17 de novembro de 2011

Azar de amar

. meia colorida - Amanda Machado

  Ela ia com o passo firme, longas passadas e a vantagem de chegar em um local que já estava cheio. Ela chegou com o olhar duro e entristeceu ao olhar aqueles olhos. Ela riu, brincou, dançou, conversou, mas enquanto fingia muitas coisas, chorava por dentro. Ela sentiu vontade de passar as mãos  nas costas dele, sentiu vontade de esbarrar o nariz no dele, sentiu vontade de tocar nele, lembrou de todos os dias, de todos os momentos. Aguentou calada, buscou a força e fez cara de felicidade.
  Ela foi para casa e chorou, de novo, chorou o amor que ela não podia viver, chorou o amor jogado no lixo, chorou o que ela não era e o que a outra era e ela não, chorou a noite toda. Chorou porque dói demais não poder tocar a pessoa que você ama e porque dói ser ignorada por quem você ama. Ela se questionou se algum dia havia sido importante para aquele ser amado, chegou a conclusão que nunca fora nada aos olhos do seu amado, nada mais que uma garota de uma vez ou outra. Como fora capaz de amá-lo?
  E todo amor do mundo estava dentro dela, e fora também, abriu a revista e pediu aos céus que algo lhe fosse dito ali, leu a coluna e era um pouco sobre ela, falava sobre pessoas solteiras que se dizem felizes solteiras mas acabam se sentindo inferiores e a espera de um namorado - que na maior parte das vezes nem precisa ser uma pessoa para se amar - e confundem os sentidos, de amor, namorar e tudo mais.
  Chorou tudo que não havia falado, chorou por se sentir rejeitada, todos os dias, chorou por se sentir uma boba, feia, tola e sensível demais. E por ser ela, daquela maneira, chorou até dormir e acordou e viveu tudo o que podia.
  Ser rejeitado é duro, dói, e pode tornar uma pessoa boa a pior do mundo, mas se alguém escolheu não te querer não adianta insistir, não posso obrigar alguém a me amar, mas... Um dia ela já vai achar um cara que lhe queira como você não quis fazer, sim eu sei que ela só vai achar alguém pra vida inteira como você não quis¹. Amar pra sempre existe, mas azar pra sempre não. E um amor não pode te doer a vida inteira, ele não vai me doer a vida inteira.
  Como o Antonio Fabiano Junior disse... "Continuamos histéricos, inseguros, com medos e nos achando feios, gordos e sem roupa. Sempre. Até que encontramos alguém. Alguém que não faz a gente precisar ser mais bonito para o mundo, [...]. Namoro é, de fato, quando a gente é abraçado por quem a gente gosta. E quando o outro gosta da gente do jeito que a gente é. Simples assim."

¹ Música do Skank, Acima do Sol.
13 de novembro de 2011

Só escreve mesmo quem já desistiu de viver...

. meia colorida - Amanda Machado

 Caminhar, pensar, imaginar... Três palavras tem um poder devastador sim! É que quando você se imagina com uma aliança no dedo você não quer se imaginar infeliz, mas eu imaginei, me imaginei muito infeliz. Comecei a lembrar de tudo que começou e nunca terminou e ainda mais de tudo que nem começou, ou de tudo que só terminou. Uma vida cheia de casos eu vou carregar (isso me deu vontade de escrever uma música daquelas bem bregas onde você cospe a sua vida).
  E lá estou eu a olhar a mão esquerda e ver uma aliança que não existe. Estou a imaginar um casamento defeituoso, cheio de palavras confusas, conversas confusas, atitudes confusas, brigas confusas, e um "eu" que nem sabe por que se casou. Estou imaginando o pior baseado em...? Nada. Não estou me baseando em nada, e daí ressurge das cinzas os meus encontros defeituosos como o meu casamento que não existe. Eu só vejo os defeitos.
 Os meus casos passageiros são tão marcantes quanto as suas histórias de ex-namorados. São marcantes porque eu faço questão de marcar o gado que vocês insatisfeitos com as dúvidas nomearam de sentimentos. Sentimentos, o que é isso mesmo? Prefiro continuar a me dedicar à pecuária. E o gado, marcado no meu couro, reflete essa minha imaginação perigosa, minha aflição e afeição por tudo que vai dar errado.
 Confusões à parte é melhor concluir o meu pensamento louco, minhas lembranças fúteis e a minha imaginação devastadora dizendo que eu não sei que fim se deu à minha aliança imaginária, já que as lembranças foram mais fortes e fizeram com que eu me esquecesse de imaginar. Somos todos assim, o real nem sempre é mais forte que o ideal, mas nesse caso, nem um, nem outro.

Conclusão: Só escreve mesmo quem já desistiu de viver.
7 de novembro de 2011

Um ano se passou...

. meia colorida - Amanda Machado

Um ano faz toda a diferença. Eu não imaginava que ia estar assim. Há um ano eu não imaginava que uma pessoa que eu jurava levar pela vida toda seria agora mais um desconhecido do que outra coisa, e que alguém que eu achava que nunca saberia que eu existia, seria conversa frequente. Algumas coisas, e algumas pessoas que eu prometi amar, foram para longe, hoje eu já não as consigo tocar.
Seth Cohen* tem toda razão, há um ano eu não imaginava que Marissa estaria tão solitária, já eu, era fácil imaginar. Uma pessoa que tem tendência a neurose e a solidão, não sabe se imaginar ao redor das pessoas por um longo tempo. Uma pessoa neurótica como o Seth não sabe se imaginar feliz, e eu também não sei, e uma pessoa com tantos problemas e uma família totalmente desarranjada não pode querer ser feliz, né Marissa?
Algumas vezes concluimos que a nossa felicidade e o bem estar só dependem de nós mesmos, e é verdade, mas ver os problemas dentro da nossa casa - e ser o problema - afetam a nossa maneira de ver os relacionamentos também, e talvez seja mais fácil, é mais fácil não se engajar em relacionamentos mais sérios. Não é medo, é realmente egoismo, eu não quero me gastar. E ser egoísta pode ser solução para muitas coisas.
Os relacionamentos assim como na televisão não são perfeitos, são cheios de defeitos e de incertezas, isso porque são entre pessoas e pessoas não são perfeitas, e assim como na televisão os relacionamentos acabam, os laços se rompem e promessas passam a ser pouco ou quase nada. As pessoas que vamos levar para a vida toda não existem, mas algumas passam boa parte da vida com você, e isso já é suficiente.

*Talvez eu esteja revendo as temporadas de The O.C.