25 de março de 2011

Mulher de borracha, nada fantástica

. meia colorida - Amanda Machado

Sou uma mulher meio torta, meio nova, meio desengonçada. Mal me formei mulher e já esqueci todas as matérias. Não gosto de brincos, colar e pulseiras, acho que me deixa apertada e me assusta, tenho a visão de que estou amarrada por cordas feitas de um material caído do céu e que nunca vou conseguir me libertar, eu sei, pura loucura, mas sou uma mulher louca assumida. Sou uma mulher que repete um típico mantra das mulheres tortas: Como eu queria ter nascido homem. Mas, no fundo, eu amo ser mulher e não queria ser homem coisíssima nenhuma, só queria algumas facilidades no dia-a-dia, afinal, depilar as pernas, axilas, virilha, buço, sobrancelhas e tudo que se tem direito para nem ser notada por esses cretinos, é um martírio. Nesse caso, apenas uma boa dose de qualquer líquido colorido com alto teor alcoólico resolve nossas dores.
 Sou uma mulher de borracha que conta seus passos e olha para o chão enquanto pensa em chegar logo ao banheiro claro e espaçoso do trabalho e enfim, ajeitar o short justíssimo abaixo do vestido que subiu e se enrolou em suas coxas nada grossas, na verdade sou mulher tipo fina. E não fina, de elegância, não sou elegante, sou fina de forma mesmo. Sou mulher tipo menina, sou mulher tipo heroína, e se uma mulher não tivesse voado antes estaria eu aqui voando pelos ares da nossa louca e atordoada imaginação. Sou mulher que não se chama de mulher, sou mulher que não se chama. Sou chama quando o fogo está bem longe das minhas frias mãos, e como as minhas mãos são quentes!
 Sou responsável e alguns dizem que minha mente é tão fechada que dá para ver a imensa porta sobre a minha testa. Já outros, dizem que sou tão liberta de portas, que penso como se não estivesse pensando e sim, vivendo. Sou imensamente apaixonada pelas pessoas, pelo o que elas podem ser, ver e tudo, tudo no que podem pensar. E odeio, odeio as pessoas quando elas não são, não vêem, e não pensam em tudo, não pensam.
Sou mulher de poucas línguas que fala com o olhar, e quando falo, falo sorrindo, acredito que não sei me expressar falando e inutilmente vivo tentando dialogar, besteira, já que não aprendi a falar direito. Falo errado, e não o português, como pode parecer, falo errado o que eu penso, falo tudo errado, meto as mãos pelos pés, pela cabeça, boca e coração, e tudo vai saindo pelos lados, escorrendo como molho de macarrão. Sou mulher que cozinha com temperos, que gosta de prato colorido, e que cozinha as pessoas, as ações, os desejos e as decisões.
 Sou uma mulher do tipo alérgica, que sonha com chocolate toda noite, que entende muito de signos, e que fala de fé sempre que possível. Eu medito, e meditar tem me feito mais mulher, apesar de eu achar que serve para me conhecer melhor, e estou me conhecendo melhor agora, no silêncio eterno que eu queria que fosse o meu dia de hoje.

Foto retirada do Jornal da Besta Fubana, falando nisso, recomendo os poemas da Sandra Salgado.
                      
Às vezes, me sinto meio pouco mulher, como se estivesse brincando com os sapatos da minha mãe.
24 de março de 2011

simplesmente, hoje eu quero ser levado a sério

. meia colorida - Amanda Machado

E eu que resolvo sentar na mesa que fica na calçada do bar e admirar os que passam. Eu que resolvo sentar e admirar. Noto que as pessoas que passam não percebem que eu as olho e não me percebem, e não percebem as outras pessoas também, não percebem nada, seus olhos estão cobertos por uma espessa faixa de tecido chamada pressa, e elas correm, correm demais como diria Roberto Carlos, elas não olham para o lado, não olham, simplesmente seguem o caminho já traçado sem se permitir o mínimo desvio. Elas enlouquecem aos poucos, eu sei. E vão sumindo ao descerem à escada do metrô. Começo então a admirar a galera de dreads que vende penduricalhos feitos de palha, pequenas miçangas e penas, eles parecem tão felizes com aqueles cabelos enormes e para o alto. São tão bonitos pendurados naquela esquina da Mahatma Gandhi, combinam com o cenário, combinam com o esquema. Começo então a notar as pessoas das barraquinhas ali em frente a Senador Dantas, e elas vendem cosméticos, biscoitos, docinhos, sucos, lanches, roupas, lingerie, e de tudo que você imaginar, um pouco mais. É bonito de ver as cores que se formam na pequena feirinha inventada.
E eu pareço louca a olhar aquilo tudo que chamamos de cotidiano e sorrir. Pareço louca porque estou olhando para os detalhes, e quem se importa com detalhes? Não há nada de artístico naquela calçada, nem mesmo as pedrinhas portuguesas, que um dia dava beleza a calçada, embeleza o cenário, elas só servem para atrapalhar as mulheres que passam com seus saltos finos e altos por ali.
Mas é claro que tem arte, a música que sai dos limites da Escola de Música da UFRJ e se espalha por ali faz parte do cenário, a mistura da música, a mistura das pessoas, a mistura é, toda, muita arte, e sou louca mesmo, sou louca pela arte da vida que a grande maioria não paga nem um centavo para sentar e assistir, que pelos menos esses continuem vivendo.

         Foto do Fotologando

E eu prefiro sorrir e parecer uma babaca, do que ser uma babaca e não sorrir.
23 de março de 2011

Sentadas em um canto qualquer...

Foto do blog Photographies
. meia colorida - Amanda Machado

 Eu não sou o tipo de pessoa que escreve textos pequenos e um monte deles no mesmo dia, não sou assim, porque para mim é como se cada texto meu merecesse uma só data para ele e como se cada tema tivesse que ser dilacerado até não dar mais. Também não sou o tipo de pessoa que escreve textos para outras pessoas, meus textos são meus e para mim, homenagear alguém em um texto é fácil, mas escrever um inteiro para alguém é muito difícil, principalmente para alguém que é tão dela que sente ciúmes de si própria.
 Mas as pessoas pedem e fica tão difícil negar, então prometo que farei, e claro, esse dia nunca chega. Peço desculpas por isso e espero que me perdoem por todo esse tempo de espera, mas dói me dedicar a alguém a ponto de escrever um texto para esse alguém, e admiro muito quem o faz com facilidade. Enfim, aqui estou eu tentando escrever um texto para alguém e só o que está saindo sou eu.
 Ontem eu senti vontade de conversar com você, como fazíamos no colégio, simplesmente te puxar para um canto, sentar e falar, ou ouvir, como era sempre muito natural. Senti saudade de caminhar pelo colégio rindo ao seu lado ou das vezes que o seu jeito competitivo e egoísta me irritava, e muito. Senti saudade de tudo, pensei em te ligar e ter aquela conversa boba de amiga, mas não liguei. Estou tentando me manter afastada do grupinho para ver se me curo. Mas tenho que admitir que estou sentindo muita falta do convívio diário, das palhaçadas regadas a temas indecentes, dos sonhos, planos e conjuntos. Você faz falta, no geral, faz muita falta. E, resolvi dizer isso, ou, escrever, para provar que mesmo que nós não sejamos um grude, eu sei que posso confiar em você e você sabe que pode confiar em mim, entre nós, eu sei, que não terá julgamentos ou acusações, estaremos sempre dispostas a melhorar um pouquinho a situação da outra. Somos boas em mascarar as situações, ou não tão boas assim, pensando bem.
 Espero que sejamos como você sonha, amigas de muito tempo, como os amigos do seu pai, espero que consigamos ser isso. Espero que o resto não nos afaste, afinal, você costuma ir pelo caminho da direita e eu, pelo jeito, para a esquerda, mas eu sei que é possível que no final, os caminhos dêem em um mesmo ponto.
 Eu te quero bem, feliz, e menos carente. Eu te quero inteira e segura, porque você tem que ser mais firme. Eu te quero mais idiota e mais escrota do que nunca. E te quero mais amiga, bem mais amiga minha. Eu te amo mesmo amiga, mesmo que você não me ouça muitas vezes.
                                                                         Para: N.C
20 de março de 2011

Te odiar me dói a pança.

. meia colorida - Amanda Machado

E eu te odeio porque agora você vai e me deixa aqui, e te odeio, odeio muito, porque você vai sair, viajar, e logo vai conhecer outra pessoa, porque é assim, quando há alguém do outro lado que sofra, a gente sempre conhece alguém rápido, e vai ser muito feliz, e vai me mostrar a sua felicidade, e eu vou sorrir de ódio e eu vou morrer do outro lado me contorcendo de ciúme. E eu te odeio por me deixar assim. E por me dar o que pedi durante muito tempo, a certeza de gostar de alguém. É, porque eu só posso ter certeza se eu sofrer, se doer muito, lá no fundo, e se for dor muscular, psicológica e tudo mais que se tem direito em relação à dor, eu sei que gosto. E confesso eu já não suporto mais a convivência com a dor, e te odeio por isso. Te odeio porque "isso" é maior do que tudo o que você escreveu para mim e que hoje, pelo jeito, não tem importância. Te odeio porque foda-se o sentimento. E eu te odeio porque agora você está tratando tudo como se já tivesse passado, e já estivesse resolvido, porra, não tem nada resolvido aqui no meu cérebro não, ou aqui na porra toda mesmo. Te odeio porque eu sou a pata idiota que só sabe ser idiota e porque você deve pensar em mim como uma vaca. Te odeio porque pensar em você e sentir dor me dá muita vontade de comer, e então quando eu como, eu morro de vontade de vomitar, então eu emagreço, porque eu odeio muito mais vomitar do que ficar sem comer. E eu te odeio quando eu emagreço, porque esse é o tipo de coisa que eu diria a você, "Emagreci!". E eu te odeio porque quando eu não estou pensando em falar com você, estou pensando em você, ou no que você falou, ou no que eu falei para você, ou pior, no que eu não falei. E eu te odeio porque eu fui bem mais sua do que eu fui dos outros e porque isso doeu tanto em mim, mas eu consegui resistir. Te odeio porque você existe e só você existir já me dá no saco. Te odeio de tanto me odiar, e isso só cresce. Cresce a minha vontade de fuzilar as pessoas que passam a minha frente e que são muito felizes, e a felicidade não existe meu cabra, e cresce a brutalidade com a qual me trato e, só cresce, e eu te odeio tanto. Te odeio porque já não dá para suportar a ideia de você com outra pessoa algum dia na sua vida, te odeio porque você vai estar a minha frente e não vai ser o meu você, vai ser o você dos outros e esse sempre foi odiado por mim. Te odeio porque te amo tanto que odiar acaba sendo sinônimo e te odiar me cansa e me dá sono e só dormindo mesmo eu esqueço que te amar dói e te odiar é mais fácil, já que ódio, não importa para quem e por quem, sempre dói.
16 de março de 2011

Palco

. meia colorida - Amanda Machado

Valentia não é o meu forte, eu tenho certeza disso, mas não sou tanta falta de coragem assim. Não chego a ser covarde. Não tenho medo de nada, só que em alguns momentos não consigo realizar determinadas ações, me falta coragem de me mostrar, de liberar meus nomes e anseios. Falta coragem de me mostrar, não é medo, é insegurança. Sou insegura em relação às pessoas, nem sempre dá para dar a cara à tapa e continuar sorrindo, é difícil enfrentar a coisa sozinha. Não tenho medo, mas não sou o super homem e me falta atributos para me achar a mulher maravilha. Enfrento o que dá para enfrentar. Vou no que sei que vou conseguir aturar. Às vezes, as pessoas conseguem me deixar insegura apenas com o olhar e pronto, lá se foi toda a esperteza que eu pensava ter. Sou forte, mas sou frágil. Não tanto quanto algumas pessoas pensam, nos dois casos. Ninguém é tão forte que não trema um pouquinho quando a coisa aperta e ninguém é tão frágil que não fortaleça os pés na areia quando a onda vai levando.
Quando me olham com aquele olhar de "o quê você vai fazer agora?" me torno toda ansiedade, e mesmo que eu planeje meu discurso, escreva, decore, sempre é um tormento. Gosto do público, mas não quando eles me conhecem, gosto de que não me vejam, que não me cerquem, que não me gostem. Nunca seria atriz. Por isso quero ser escritora. O mundo pode ser bem carrasco com quem ele "vê" e eu não quero ser vista, isso me deixa mais insegura, mais forte e mais frágil do que eu já sou, e creio que já sou na medida certa, um pouquinho mais e o copo transborda.

14 de março de 2011

Carna-muito bom!-val

. meia colorida - Amanda Machado

Prometi as pessoas que festejaram de sexta (04) a domingo (13) comigo que faria um texto sobre o "nosso" carnaval. O carnaval é e sempre será mais que uma festa da carne como alguns a julgam e como o nome logo diz, é também um período onde, em especial o brasileiro, esquece os problemas, as dores, a violência, a corrupção e a miséria e simplesmente festeja. Festeja a vida, a natureza e o amor, e por que julgar uma festa que traz alegria para tanta gente que só faz sofrer?
Meu carnaval foi impregnado de Ipanema e de frases engraçadinhas. No bloco vem ni mim que eu sou facinha, apesar da chuva e do tom meio nublado que o carnaval estava ganhando, conheci um goiano e ri do sotaque dele, recebi uma proposta de troca: um beijo por uma latinha de cerveja, óh que gracinha, e fui encarada como má educada, não dá né? No geral, como o bloco não andava, foi fácil achar as pessoas, porém difícil curtir a música. Após o bloco fui a uma festa no Catete, a festa não foi lá essas coisas, mas... Não foi tão ruim assim. No sábado, uma chuvinha fria e chata me deixou um pouco desanimada, porém, apesar de tudo, a Polis Suco salvou o meu sábado de carnaval, que já tinha como marca ser o pior dia de carnaval. No domingo, um ótimo dia com direito a solzinho, o simpatia é quase amor me animou bastante, e após um tempo na praia com o fim do bloco, que sim, estava muito cheio, segui para o bloco cru que estava rolando em Botafogo, e já sei que no próximo quero curtir o bloco inteiro. Na segunda, o melhor dia com certeza, o afroreggae foi o MÁXIMO! Com músicas animadas e boas, me deixaram muito feliz com direito a deitar na areia e balançar as pernas, rs. Uma noite incrivelmente boa fechada com uma dose de dor que alcançou minha terça, e só foi deixada de lado um pouquinho no bloco carmelitas em Santa Teresa, que sim, eu recomendo. Como o carnaval no rio não acaba na terça-feira, ainda teve mulheres de chico sábado, no Leblon, um bloco regado à música do belíssimo Chico Buarque e feito de um time só de mulheres. E domingo? Tem monobloco, não foi tanto sufoco quanto ano passado, e valeu a pena me fantasiar de múmia, recebi altos elogios e fui confundida com uma pessoa toda quebrada inúmeras vezes. Para fechar o carnaval, um churrasco sem carne na casa do Yago e muitas histórias para contar. E acabou o carnaval, que foi cheio de DR's e me deu o posto oficial de vela do ano.

Tchau carnaval, e até o ano que vem!
11 de março de 2011

Uma mente muito inquieta


. meia colorida - Amanda Machado
"Nós todos construímos diques para manter a distância as tristezas da vida e as forças muitas vezes avassaladoras que atuam nas nossas mentes. Não importa a maneira pela qual fazemos isso - amor, trabalho, família, fé, amigos, negação, álcool, drogas ou medicamentos - construímos esses diques, pedra por pedra, ao longo da vida inteira. Um dos problemas mais difíceis está em construir essas barreiras com uma altura e uma resistência tais que se tenha um verdadeiro abrigo, um santuário afastado da dor e do tumulto frustrante, e que ele seja permeável o suficiente para permitir a renovação da água do mar que impedirá a inevitável tendência para a água salobra."
 "No entanto, o amor é para mim, em última análise, a parte mais extrordinária desse quebra-mar. Ele ajuda a deixar de fora o pavor e o desconforto ao mesmo tempo que permite a entrada da vida, da beleza e da vitalidade. (...) Depois de cada morte aparente dentro da minha mente ou do meu coração, o amor voltou para recriar a esperança e restaurar a vida. No melhor dos casos, ele tornou suportável a tristeza inerente à vida; e manifesta, sua beleza. De modo inexplicável e parcimonioso, ele proporcionou não só o agasalho mas a lanterna para as horas mais escuras e o tempo mais inclemente.
 Há muito tempo, abandonei a noção de uma vida sem tempestades, ou de um mundo sem estações secas e assassinas. A vida é por demais complicada, é constante demais nas suas mudanças para ser diferente do que realmente é. E eu sou, por natureza, instável demais para ter outra atitude a não ser a de uma profunda desconfiança diante da grave artificialidade inerente a qualquer tentativa de exercer um controle excessivo sobre froças essencialmente incontroláveis. Sempre haverá elementos pertubadores, propulsores; e eles estarão sempre presentes até o momento em que, nas palavras de Lowell, o relógio for retirado do pulso. No final das contas, são os momentos isolados de inquietude, de desolação, de fortes convicções e entusiasmos enlouquecidos, que caracterizam nossa vida, que mudam a natureza e a direção do trabalho e que dão colorido e significado final ao amor e às amizades."
                                                              Uma mente inquieta, de Kay Redfield Jamison

E esse é realmente um retrato do que se passa em mim e do que eu sou e sempre serei.

.. quando tá escuro e ninguém te ouve, quando chega a noite e você pode chorar, há uma luz no túnel dos desesperados, há um cais de porto pra quem precisa voltar, eu tô na lanterna dos afogados, eu tô te esperando, vê se não vai demorar, uma noite longa, pra uma vida curta, mas já não me importa, basta poder te ajudar e são tantas marcas que já fazem parte do que eu sou agora, mas ainda sei me virar, eu tô na lanterna!  . lanterna dos afogados
9 de março de 2011

"No meio de tantas incertezas, uma certeza: só Cazuza me entenderia" Gabryella Beckman




. meia colorida - Amanda Machado

Uma vez, eu postei em um texto: "Não dá para olhar para trás o tempo todo, e muito menos chorar o leite derramado, a vida ensina, cabe a nós, aprender ou não!". E, neste momento esta frase me voltou à cabeça, veio unida a uma tempestade de pensamentos, alguns que eu mesma nunca imaginei que poderia ter. Esses mesmos pensamentos lutam para ganharem voz e saírem de mim como palavras, lutam para serem ouvidos, para que eu consiga senti-los como meus.
Já errei muitas vezes, em muitas coisas, e como um amigo disse, sou muito nova e ainda tenho muito tempo para errar e acertar, e eu tenho a obrigação de errar uma vez ou outra, mas, nunca me senti errando como agora, nunca me senti pisando em planos como agora, sempre vi meus erros como uma prática de segurança para o meu eu, e que me deixariam feliz em longo prazo. Sentia meus erros como partes do meu corpo que me impediam de ser infeliz e me mantinham afastada da dor, não importava se doía nos outros. Agora importa.
E não importa só porque está doendo no outro, importa porque está doendo aqui, e dói quando eu deito, quando sento e quando levanto. Dói só de pensar em pensar. E simplesmente, dói. Dói, porque eu não fui eu, não pensei por mim e em mim. Pensei no imediato, no quanto eu não estava recebendo e no que as outras pessoas estavam vendo eu não receber. Pensei no quanto eu queria ser, não pensei no momento e no lugar, só queria afastar toda depressão que estava ali, nas perguntas. Acabei mais depressiva que antes, acabei me sentindo mal, má, ruim mesmo. Me senti um nada, vazia e oca, faltava a minha paz de espírito. Descobri que odeio fazer mal aos outros, descobri que odeio que desliguem o telefone na minha cara. Descobri que sou muito mais insegura do que eu sempre soube ser. E, ao mesmo tempo, e no decorrer deste, já ensaiei e fiz pequenas alterações no meu discurso, umas dez ou cento e cinquenta vezes.

Está sendo ruim, não me concentro e não vou me concentrar, até tomar banho é difícil, já que sempre me pego pensando em outra coisa que não lavar o cabelo. Me apeguei, está certo. Espero e não pretendo me desapegar, eu sempre soube que era importante.
Até que ser ignorada me cai bem, sou boa nisso!