E eu que resolvo sentar na mesa que fica na calçada do bar e admirar os que passam. Eu que resolvo sentar e admirar. Noto que as pessoas que passam não percebem que eu as olho e não me percebem, e não percebem as outras pessoas também, não percebem nada, seus olhos estão cobertos por uma espessa faixa de tecido chamada pressa, e elas correm, correm demais como diria Roberto Carlos, elas não olham para o lado, não olham, simplesmente seguem o caminho já traçado sem se permitir o mínimo desvio. Elas enlouquecem aos poucos, eu sei. E vão sumindo ao descerem à escada do metrô. Começo então a admirar a galera de dreads que vende penduricalhos feitos de palha, pequenas miçangas e penas, eles parecem tão felizes com aqueles cabelos enormes e para o alto. São tão bonitos pendurados naquela esquina da Mahatma Gandhi, combinam com o cenário, combinam com o esquema. Começo então a notar as pessoas das barraquinhas ali em frente a Senador Dantas, e elas vendem cosméticos, biscoitos, docinhos, sucos, lanches, roupas, lingerie, e de tudo que você imaginar, um pouco mais. É bonito de ver as cores que se formam na pequena feirinha inventada.
E eu pareço louca a olhar aquilo tudo que chamamos de cotidiano e sorrir. Pareço louca porque estou olhando para os detalhes, e quem se importa com detalhes? Não há nada de artístico naquela calçada, nem mesmo as pedrinhas portuguesas, que um dia dava beleza a calçada, embeleza o cenário, elas só servem para atrapalhar as mulheres que passam com seus saltos finos e altos por ali.
Mas é claro que tem arte, a música que sai dos limites da Escola de Música da UFRJ e se espalha por ali faz parte do cenário, a mistura da música, a mistura das pessoas, a mistura é, toda, muita arte, e sou louca mesmo, sou louca pela arte da vida que a grande maioria não paga nem um centavo para sentar e assistir, que pelos menos esses continuem vivendo.
Foto do Fotologando


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