Sou uma mulher meio torta, meio nova, meio desengonçada. Mal me formei mulher e já esqueci todas as matérias. Não gosto de brincos, colar e pulseiras, acho que me deixa apertada e me assusta, tenho a visão de que estou amarrada por cordas feitas de um material caído do céu e que nunca vou conseguir me libertar, eu sei, pura loucura, mas sou uma mulher louca assumida. Sou uma mulher que repete um típico mantra das mulheres tortas: Como eu queria ter nascido homem. Mas, no fundo, eu amo ser mulher e não queria ser homem coisíssima nenhuma, só queria algumas facilidades no dia-a-dia, afinal, depilar as pernas, axilas, virilha, buço, sobrancelhas e tudo que se tem direito para nem ser notada por esses cretinos, é um martírio. Nesse caso, apenas uma boa dose de qualquer líquido colorido com alto teor alcoólico resolve nossas dores.
Sou uma mulher de borracha que conta seus passos e olha para o chão enquanto pensa em chegar logo ao banheiro claro e espaçoso do trabalho e enfim, ajeitar o short justíssimo abaixo do vestido que subiu e se enrolou em suas coxas nada grossas, na verdade sou mulher tipo fina. E não fina, de elegância, não sou elegante, sou fina de forma mesmo. Sou mulher tipo menina, sou mulher tipo heroína, e se uma mulher não tivesse voado antes estaria eu aqui voando pelos ares da nossa louca e atordoada imaginação. Sou mulher que não se chama de mulher, sou mulher que não se chama. Sou chama quando o fogo está bem longe das minhas frias mãos, e como as minhas mãos são quentes!
Sou responsável e alguns dizem que minha mente é tão fechada que dá para ver a imensa porta sobre a minha testa. Já outros, dizem que sou tão liberta de portas, que penso como se não estivesse pensando e sim, vivendo. Sou imensamente apaixonada pelas pessoas, pelo o que elas podem ser, ver e tudo, tudo no que podem pensar. E odeio, odeio as pessoas quando elas não são, não vêem, e não pensam em tudo, não pensam.
Sou mulher de poucas línguas que fala com o olhar, e quando falo, falo sorrindo, acredito que não sei me expressar falando e inutilmente vivo tentando dialogar, besteira, já que não aprendi a falar direito. Falo errado, e não o português, como pode parecer, falo errado o que eu penso, falo tudo errado, meto as mãos pelos pés, pela cabeça, boca e coração, e tudo vai saindo pelos lados, escorrendo como molho de macarrão. Sou mulher que cozinha com temperos, que gosta de prato colorido, e que cozinha as pessoas, as ações, os desejos e as decisões.
Sou uma mulher do tipo alérgica, que sonha com chocolate toda noite, que entende muito de signos, e que fala de fé sempre que possível. Eu medito, e meditar tem me feito mais mulher, apesar de eu achar que serve para me conhecer melhor, e estou me conhecendo melhor agora, no silêncio eterno que eu queria que fosse o meu dia de hoje.
Foto retirada do Jornal da Besta Fubana, falando nisso, recomendo os poemas da Sandra Salgado.
Às vezes, me sinto meio pouco mulher, como se estivesse brincando com os sapatos da minha mãe.


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